quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Conquista



Eu realmente não sei se estou errado, não sei se estou confuso, não sei se me confundindo ficarei mais tranquilo. Talvez seja absolvido pela corte marcial da consciência.

Pode ser que a busca pela confusão seja a fuga da realidade, a porta de mentira, a chave falsa ou a busca pela invenção do coerente. 

Honestidade com alarme falso.

Passei anos, meses, semanas e dias em busca de alguém para dividir as mesmas coisas, os mesmos gostos, os mesmos sonhos, as mesmas formas, o mesmo canto da casa, a mesma roupa, a mesma pele, as mesmas ilusões e escolhas; porém quando encontrei essa pessoa, toda a minha vontade se perdeu. Se esvaiu, desceu pelo ralo da dúvida.

Foi pior que sexo sem orgasmo, foi um prazer meio insatisfeito, bem mal feito. 

Descobri depois de muitas cenas e episódios parecidos que o meu verdadeiro prazer está na conquista e nunca na continuidade dela. Descobri que todo meu encanto, todo meu desejo, todos os meus anseios, todos os meus dramas e minhas tramas se rendem ao deleite da conquista.

É  como um vício sem volta, é como um imã voraz de quem adora o desafio de chegar lá e tomar um novo território. 

Eu adoro desafio, adoro a rendição do outro. Adoro observar a vítima se rendendo a uma algêma em forma de palavra, pois palavras prendem mais que algêmas, palavras nos fazem entrar na cela e jogar a chave fora.

Adoro a súplica por cuidado, adoro a carência e o elogio do cativo. Sou o carcereiro que escuta o agradecimento entre as grades e finge que nada aconteceu. Mantenho minha fama de carrasco sem alma.

Aqueles que se prendem demais a alguém acabam sofrendo de devoção sentimental, e devoção sentimental é doença dos sentidos. É patologia burra.

O doente inverte as ordens, muda as direções do certo para o errado. Inverte os pólos.

Os primeiros sintomas começam a se manifestar quando as críticas soam como elogia, quando o abandono se torna carinho, quando o esquecimento é sinal de querer preservar sentimentos. O doente acha que o outro é a sua própria cura e já começa a se sentir a doença quando já não agrada tanto quanto agradava antes. Com o passar do tempo o quadro vai se agravando e a U.T.I. instalada aparece quando o doente não consegue mais viver sem ofensas, sem desaforos ou decepções. 

Entre o carcereiro e o cárcere existe uma linha frágil, porém definitiva.

Só vale se prender a alguém se esse alguém deseja mesmo se prender a você.

Isso sim é conquista.

W.O.

Um comentário:

  1. Se prender a alguém sem sufocá-lo...eis o segredo e grande desafio!!
    Belo texto!

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